13 de agosto de 2009

ALICE RUIZ

te procuro
nas coisas boas

em nenhuma
te encontro inteiro

em cada uma
te inauguro

*

lembra o tempo
que você sentia
e sentir
era a forma mais sábia
de saber
e você nem sabia?

*

já estou daquele jeito
que não tem mais conserto
ou levo você pra cama
ou desperto

*

já não temo fantasmas
invoco a todos
que venham em bando
povoar meus dias
atormentar minhas noites

entre tantos
loucos e livres
existe um
que é doce
e que me falta

*

vontade de ficar sozinha
só para saber
se você ia
ou vinha
quando deixou
esse bagaço
no meu peito
pedaço estreito
defeito na mercadoria
do jeito que você queria

*

dizer não
tantas vezes
até formar um nome

*

Se

se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra

eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto

ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio

daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse...

*

olhar o mesmo olho
com outros olhos

em outro olhar
o mesmo olho

nos mesmos olhos
o olhar do outro
de olho

*

que importa o sentido
se tudo vibra?

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